quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Rakushisha. E em duas folhas se abre. A foto.



MAL GERMINOU
E EM DUAS FOLHAS SE ABRE
SEMENTE DE CAQUI

Da cabana de Basho, um haicai traduzido pela autora de Rakushisha, a Adriana Lisboa. E quem visitar seu blog agora, verá uma foto belíssima. Li o romance num só fôlego. Entre impressões marcantes, um pedaço ficou, procurando-me, curiosamente antecedia exatamente os versos acima.
Leio onde está 27 de junho:

“Imagino o motivo de ter esquecido como se chora. Talvez a água das lágrimas atrapalhe o caminho. Talvez deixe os mapas nublados.” [...]

E sigo as linhas até o silêncio:

“Entrei na banheira, a água apenas ligeiramente morna, hoje está um pouco mais quente do que ontem eu acho. Meu corpo se disfarçou sob a água e sua nata de sabão. Os joelhos dobrados ficaram de fora. E os pés, apoiados na borda da banheira.
Tentei. Fechei os olhos e tentei. Quem sabe imersa ali, no elemento irmão, eu pudesse voltar a produzi-las, a convencer as glândulas a interromper sua greve, seu retiro, a lutar contra sua disfunção.
Nada. Ou talvez algum sinal, um peso novo subindo pelos ossos do meu rosto, como se eu estivesse quase conseguindo? Um peso tão discreto, tão suave que eu poderia nem ter percebido.
Mas os olhos continuaram secos. Afundei a cabeça na água, o silêncio estranho do elemento que não é nem nunca foi o meu tapou meus ouvidos. Meus cabelos transformados em algas de algum pequeno mar anônimo. O rosto ficou de fora. Seco.”


*